Hooliganismo no Brasil. Violência e disputa: um estudo criminológico

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O presente estudo apresenta os resultados de uma investigação que tinha como propósito verificar as condições situacionais nos casos de homicídio relacionado à disputa entre adeptos de futebol no Brasil.

Para consecução desse objetivo, após análise da literatura pertinente ao “hooliganismo”, à criminalidade violenta, à gestão de risco e criminologia ambiental, realizamos um estudo qualitativo, baseado na análise de conteúdo de notícias e dados colhidos em processos judiciais versando sobre 77 homicídios relacionados à disputa entre adeptos de futebol ocorridos nos últimos 20 anos no Brasil. Com o escopo de diminuir a subjetividade da análise de conteúdo, foram realizadas entrevistas com membros de grupos organizados de adeptos e autoridades brasileiras, visando a identificar as percepções e critérios de oportunidade para as ações violentas e definir meios factíveis para obstruir as oportunidades para a prática de crimes.

Os resultados obtidos sugerem que as mortes ocorridas nos conflitos são uma contingência aceita na subcultura dos grupos organizados de adeptos no Brasil, até mesmo porque a excitação advinda da possibilidade de praticar atos de violência é o que motiva a adesão de muitos de seus filiados. Além disso, constatou-se que os homicídios são cometidos predominantemente por jovens integrantes de grupos organizados de adeptos, do sexo masculino, e que as agressões são, em sua maioria, de natureza predatória, realizadas mediante emprego de armas, contra vítimas também jovens e integrantes de grupos organizados de adeptos rivais. A maior parte das agressões ocorre em locais distantes do estádio, em dias de jogo, muito embora os conflitos não estejam necessariamente vinculados à disputa de uma partida entre as equipes de futebol rivais.

A acirrada rivalidade entre clubes e adeptos e a inexistência de proteção policial adequada foram constantes verificadas nos homicídios analisados. Ao final, elaboramos um quadro relacionando as técnicas de prevenção indicadas para as condições situacionais verificadas, tendo em vista os objetivos de aumentar o risco e o esforço exigido para as ações ilegítimas e diminuir a recompensa, as justificativas e as provocações em relação aos agentes.