Berços, não túmulos

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Em sua ânsia de onipotência, magnificamente retratada no egoísmo assassino de Raskólhnikov, em “Crime e Castigo”, o homicida se alça à condição de uma divindade que decide sobre a vida e a morte e aponta para si mesmo como juiz supremo da realidade. Tal oposição irreconciliável entre amor e ódio, como precursores da vida e da morte, respectivamente, foi eternizada por Roberto Lyra, numa síntese magistral de tudo quanto até aqui tentamos exprimir:

“O amor é, por natureza e por finalidade, criador, fecundo, solidário, generoso. Ele é cliente das pretorias, das maternidades, dos lares e não dos necrotérios, dos cemitérios e dos manicômios. O amor, o amor mesmo, jamais desceu ao banco dos réus. Para os fins de responsabilidade, a lei considera apenas o momento do crime. E nele o que atua é o ódio. O amor não figura nas cifras de mortalidade e sim nas da natalidade; não tira, põe gente no mundo. Está nos berços e não nos túmulos”.